Quando falamos em câncer logo pensamos em tratamentos longos, que envolvem quimioterapia, sofrimento e consequentemente a morte. Isso realmente pode acontecer quando estamos falando do câncer diagnosticado em uma fase avançada ou metastática. Porém quando falamos no câncer em sua fase inicial, na maioria dos casos, as chances de cura são altas sem a necessidade de um tratamento sistêmico como quimioterapia ou até mesmo tratamentos multimodais mais complexos.

Atualmente a busca pelo diagnóstico precoce do câncer se faz através de exames específicos de rastreamento como mamografia, colonoscopia, PSA, entre outros, que são realizados em um grupo da população considerado de maior risco (de acordo com faixa etária, história familiar, etc.) seguindo protocolos já estabelecidos pelas mais diversas sociedades médicas. Entretanto, esse rastreamento não é realizado para todos os tipos de neoplasia e também não são realizados, em sua maioria, na população que não preenche os critérios de grupo de risco.

Nesse contexto, um interessante artigo publicado recentemente na revista Nature Communications traz a possibilidade de um método de rastreamento não invasivo revolucionário e que poderia diagnosticar alguns tipos de câncer anos antes dos atuais exames convencionais. Trata-se do exame PanSeer que, através de uma amostra de sangue do paciente, avalia a presença de possível metilação no DNA circulante no plasma. Nesse estudo mais de 123.000 pacientes hígidos, no período entre 2007 e 2014, tiveram amostras de sangue regularmente coletadas e armazenadas e foram então acompanhados clinicamente. No fim do ano de 2017 (10 anos de acompanhamento) 575 pacientes tiveram diagnóstico de câncer de estômago, esôfago, colo-retal, pulmão ou fígado. A análise das amostras sanguíneas armazenadas desses pacientes evidenciou uma metilação no DNA circulante que não estava presente nas amostras dos pacientes que não desenvolveram um câncer. Outro ponto de destaque é que essa metilação no DNA pode ser encontrada em amostras coletadas até 4 anos antes do diagnóstico do câncer.

Apesar do resultado interessante do estudo e por se tratar de um método não invasivo, trata-se de uma análise retrospectiva e para o teste se tornar realidade ainda precisar ser validado. Entretanto é um grande avanço e a esperança de dias melhores na nossa batalha contra o câncer.

 

Referência

Chen X. et al. Nature Communications 2020;11:3475

https://doi.org/10.1038/s41467-020-17316-z