Os primeiros relatos de preocupação com o controle de câncer no Brasil nos remetam a 1921, com pioneirismo do Dr. Mario Kroeff.  No ano seguinte, de acordo com os planos do professor Borges da Costa foi inaugurado o primeiro centro de oncologia do Brasil, na cidade de Belo Horizonte (BH), com o nome de Instituto do Radium.

No início do século passado pouco se sabia sobre a doença. Na época, o diretor nacional de saúde, Dr. Carlos Chagas, obrigou que os atestados de óbito relatassem o câncer como a causa morte, quando paciente apresentava o diagnóstico.  Impressionado com os números coletados, em 1924 Chagas fixou a cláusula de “Luta contra o Câncer”. Os dados continuaram escassos por muitos anos, e somente em 1983 foi implementado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) um registro obrigatório e oficial dos dados no Brasil.

Na Era Vargas, entre 1930 e 1945, seguindo exemplos internacionais houve uma pressão da população pelo estudo e combate ao câncer no Brasil. Sendo assim, em 1937 foi criado o Centro de Cancerologia de Serviço de Assistência Hospitalar do Distrito Federal (Rio de Janeiro), o atual INCA. Era um desejo do Dr. Mario Kroeff que houvesse em um único lugar, assistência, diagnóstico, tratamento, ensino e pesquisa sobre o câncer.

Em 1941 foi criado o Serviço Nacional de Câncer (SNC) para controle da doença no país. Após essa data começaram a surgir as ligas contra o câncer. Entre 1942 e 1947, surgiram as Ligas Baiana, Paulista e Paranaense. Essas ligas tinham apoio de muitas pessoas influentes e conseguiam captar verba para ajudar nas pesquisas e no tratamento, ainda incipiente.

Em 1950, no Hospital Gafrée Guinle, Dr. Sebastião da Silva Campos, começou a administrar coquetéis de medicamentos os pacientes, mas somente 5 anos depois, em 1955, chegou a Mostarda Nitrogenada. Logo em seguida, foram trazidos o Enduxan e o Oncotiotepa. E nessa época foi criado no INCA o serviço de quimioterapeutas.

Foi somente em 1972 que foi criado dentro do INCA o serviço de Oncologia Clínica, com médicos clínicos generalistas, mas que gostavam de cuidar de pacientes com câncer. Os médicos tinham dedicação profissional ainda sem reconhecimento como especialistas, e precisavam buscar conhecimentos fora do Brasil.

Alguns hospitais dedicados ao cuidado dos pacientes com câncer também começaram a surgir, como o Instituto Central em SP em 1953, hoje AC Camargo, assim como As Pioneiras Sociais, em 1956, no Rio de Janeiro, que mais tarde em 1977 passou a ter foco no câncer feminino e até hoje continua com esta missão, embora faça parte do INCA.

Em 1967 ocorreu a Campanha Nacional de Combate ao Câncer. Muitas mudanças políticas ocorreram na época, e o INCA chegou a sair da gestão do Ministério da Saúde (MS) sendo transferido para o Ministério da Educação e Cultura em 1969. A época foi muito difícil para instituição, que só conseguiu retornar ao MS em 1972.

Em 1973 foi histórico para o Brasil, pois o INCA começou a desenvolver pesquisas clínicas em câncer. Histórica também foi a década de 80, marcada pelo programa integrado de radioterapia entre o INCA e o Hospital Servidores do Estado, e especificamente 1983, quando foi criado o Centro Nacional de Transplante de Medula Óssea (CEMO), dentro do INCA, pelo Dr. Ary Frauzino.

Em 1996, campanhas de conscientização da população foram reforçadas, como a do Controle de Tabagismo e Viva Mulher (câncer de colo de útero).

Em 2000 houve a criação dos Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACONs), com o objetivo de descentralizar o cuidado dos pacientes com câncer em todo o Brasil.

 

A Oncologia Clínica e sua história no Brasil

Uma jovem de apenas 37 anos.

Era 1983 nasceu oficialmente a especialidade de Oncologia Clínica, de acordo com a resolução CNRM 004/1983. Uma conquista para muitos que desde 1921 lutavam pelo cuidado dos pacientes com câncer no Brasil. E desde 1950 já havia médicos dedicados ao cuidado dos pacientes com câncer.

Iniciou com uma residência de 3 anos, onde o médico, após sua formatura deveria cumprir 1 ano na Clínica Médica e 2 anos na Oncologia ou Cancerologia.

Com o crescente volume de informações sobre câncer, em 2002 houve uma revisão, e de acordo com a resolução CNRM 001/2002, a residência em Oncologia/Cancerologia passou a ser de 4 anos: 2 anos na Clínica Médica e 2 anos na Cancerologia/Oncologia.

Também em 2002, de acordo com a resolução CME 1634, houve o reconhecimento da Oncologia Clínica como área de atuação da Cancerologia, filiada a Associação Médica Brasileira (AMB).

Em 2003, de acordo com a resolução CNRM 004/2003, a Oncologia/Cancerologia foi dividida em Clínica e Cirúrgica. Assim, quem fosse seguir a especialização cirúrgica devia ter como pré-requisito 2 anos em cirurgia geral e quem fosse seguir a especialização clínica, 2 anos em medicina interna.

Em 2006, de acordo com a resolução CNRM 007/2006, a Oncologia/Cancerologia Cirúrgica muda seu período total de estudos em residência médica para 5 anos.

Em 2007, de acordo com a resolução CNRM 007/2007, a Oncologia/Cancerologia Clínica muda seu período total de estudos para 5 anos, ou seja, o médico após terminar seu curso, precisa fazer 2 anos de residência em clínica médica e depois mais 3 anos em Cancerologia/Oncologia, para assim receber seu título.

Em 2017, a Oncologia Clínica foi reconhecida como especialidade médica pela Associação Médica Brasileira. Antes, ela era apenas uma área de atuação da Cancerologia.

Em 2018, o Programa de Residência Médica em Oncologia Clínica foi aprovado pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) em setembro e deve ser implementado até 2021 em todas as instituições. Uma mudança profunda curricular, e não em atempo de duração na formação.

Esta coleta de dados, não foi fácil, e só foi possível pelo acervo do INCA disponível no site para população e ao Ementário da Legislação da Residência Médica do MEC, o qual tive que abrir cada resolução, para desenhar este histórico.